T Ó P I C O : Precauções e tratamento para evitar o depauperamento das lavouras (seca de ponteiros/”die-back”)
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Precauções e tratamento para evitar o depauperamento das lavouras (seca de ponteiros/”die-back”)
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 17/12/2020 14:27:44
Leonardo Assad Aoun comentou em: 14/12/2020 12:10
Precauções e tratamento para evitar o depauperamento das lavouras (seca de ponteiros/”die-back”) - Santinato & Santinato Cafés Ltda
Santinato & Santinato Cafés Ltda – Pesquisa & Consultoria
Precauções e tratamento para evitar o depauperamento das lavouras (seca de ponteiros/”die-back”)
Dr. Felipe Santinato; Roberto Santinato; Victor Afonso Reis Gonçalves
Acesse: www.santinatocafes.com
Dúvidas: fpsantinato@hotmail.com e 19-982447600 (whatsap)
O depauperamento das estruturas vegetativas do cafeeiro ocorre quando a translocação de carboidratos de suas reservas (folhas, ramos e etc.) ocorre intensamente, e sem reposição, para os frutos, tornando tais estruturas vegetativas mais “fracas”, com menores emissões de nós, folhas, menor engrossamento de tais ramos, ao ponto de que eles iniciam um secamento abrupto que o leva à morte.
A morte desses ramos leva a menores produtividade nas safras seguintes, visto que o número de ramos viáveis para produzir são menores, além do que com o aumento da radiação solar no interior da planta, agora vazada, aumenta-se a quantidade de brotos, que interferem na produtividade e oneram os custos das lavouras, quando desbrotados. O prejuízo também ocorre na safra atual, visto que os frutos presentes nos ramos enfraquecidos, geralmente amadurecem mais rápido, secando, e caindo no solo antes do momento ideal da colheita. Aliado a isto, tais frutos, em certa proporção, geralmente estão mal formados (coma apenas uma banda completa) e/ou apresentam peneira inferior.
Outro ponto é que tais ramos, debilitados, favorecem a entrada de pragas e doenças, tais como cercosporiose, ferrugem e mancha aureolada. Quando isso ocorre, o depauperamento é severo, e as plantas chegam a se tornar “esqueletos” com redução total da produtividade da safra seguinte, ou seja, não produzem nada!
O die back ocorre com maior frequência em lavouras situadas em localidades de clima quente, com temperatura média superior a 21ªC, faces expostas ao sol, pontas de linhas de café, lavouras plantadas em solos com menores teores de argila, e menores teores de M.O, e que não utilizam de adubação orgânica. Porém ocorrem também em lavouras bem estruturadas, com solo adequado, mas que por uma série de motivos não receberam os fertilizantes nas quantidades adequadas, proporções convenientes e na época correta, como mostraremos ao longo do texto.
O efeito ocorre também de forma individual ou em reboleiras, em plantas que apresentam “peão torto” (decorrentes de plantios mal feitos), lajes subsuperificias, cascalhos, infestação de nematoides e outras pragas de raiz, incidência de fuzariose e outras doenças radiculares.
Os efeitos descritos anteriormente podem ser vistos na série de Figuras a seguir:
Nessas imagens verificamos o efeito do depauperamento se iniciando com a translocação intensa de carboidratos das folhas para os frutos, sem a devida reposição. Em pouco tempo os teores foliares diminuíram (vide o amarelecimento), o crescimento dos ramos desacelerou e os frutos começaram a cair no solo.
Nesta outra foto vemos claramente as diferenças entre o processo de amadurecimento de plantas sadias e plantas com die-back. As plantas sintomáticas apresentam maior quantidade de frutos secos, miúdos, menor quantidade de frutos cereja, além da incidência de cercosporiose em quase todos os frutos, até mesmo nos frutos verdes.
O die-back também esta ligado a “força” dos ramos, em que ramos mais finos e “fracos” apresentam maior seca de ponteiros.
A proporção de matéria seca de frutos com a matéria seca (MS) da planta inteira, e principalmente a matéria seca das folhas, tem ampla ligação com o depauperamento das lavouras, “die back”. Isso pois as folhas possuem as maiores reservas de nutrientes, e consequentemente de carboidratos da planta, que se translocam para os frutos, notadamente a partir da fase de granação dos frutos (fase 2 nos gráficos a seguir). Quando a porcentagem de MS fruto/MS planta inteira é elevada (acima de 20%) e/ou a relação entre MS fruto/MS folhas é próxima ou superior a 1, têm-se maiores riscos de depauperamento, indicando-se complementações nas adubações tanto via solo, quanto via foliar.
Geralmente, em plantas mais novas, com 30 meses (1ª safra), a proporção de MS de frutos e a MS da planta inteira é elevada, devido a planta ainda estar em formação e não raro, as produtividades são elevadas, quando a lavoura é devidamente implantada e conduzida.
A seguir temos tais relações para lavouras de 1ª safra e para lavouras adultas (2ª a 6ª safras) de cafeeiros Catuaí Vermelho IAC 144, cultivados em três localidades:
Figura. Relação entre MS das folhas/MS dos frutos e MS dos frutos/MS da planta inteira para cafeeiros de 30 meses (1ª safra) (A e B) e ne média de cinco safras (2ª, 3ª, 4ª,5ª e 6ª safras) (C e D), em três localidades.
CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).
Fases fenológicas: 1 = Inicio da expansão dos frutos; 2 = Expansão/granação dos frutos; 3 = Maturação dos frutos.
Fonte: Santinato, R & Santinato, F, (2020).
A proporção de MS frutos/MS da planta inteira decai a medida que a planta se desenvolve e se torna mais velha. Tal proporção se eleva em anos de carga mais elevada, vide por exemplo na quarta safra, nas três localidades.
Figura. Relação MS frutos/MS total (eixo x da esquerda) e Produtividade de cada safra (eixo x da direita), ao longo de seis safras, em três localidades.
CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).
Fonte: Santinato, R. & Santinato, F. (2020).
Notemos que nas localidades de clima quente e irrigadas, mesmo com cargas elevadas (próximo de 70 sacas/ha), e com Rel. MS fruto/MS folha alta houve a possibilidade de obtenção de safras subsequentes satisfatórias (veja 1ª, 2ª, 3ª e 4ª safras). Na quinta safra houve queda na produtividade, e na sexta safra um retorno produtivo adequado, mantendo sua média ao redor de 52 sacas/ha. No caso da localidade de clima ameno/sequeiro houve apenas uma safra considerada “alta” (4ª safra), que na sequência, ficou bastante reduzida, tendo um pequeno incremento na sexta safra, que manteve sua média ao redor de 32 sacas/ha.
Figura. Relação MS frutos/MS folhas (eixo x da esquerda) e Produtividade de cada safra (eixo x da direita), ao longo de seis safras, em três localidades.
CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).
Fonte: Santinato, R. & Santinato, F. (2020).
Há portanto, uma maior necessidade de estruturação da lavoura na fase de formação para que, em caso de carga alta, a planta não se depaupere. Daí o fato de termos que pensar na adubação do cafeeiro sempre de forma bienal, para vegetar e produzir adequadamente em anos agrupados e não somente na safra em questão.
Exigências nutricionais para a adubação:
Lavouras cultivadas em localidades quentes e irrigadas apresentam necessidade de nutrientes diferentes das localidades de clima ameno/sequeiro, como pode ser visto na Figura a seguir. A maior matéria seca e consequentemente composição química exige maiores quantidades de todos os nutrientes.
Figura. Matéria seca da planta inteira cultiva em localidade de clima quente/irrigado e clima ameno/sequeiro, ao longo de 90 meses (6ª safra).
Na fase de formação das lavouras temos as seguintes exigências, por exemplo, para lavoura situada em clima ameno/sequeiro, com expectativa de produtividade de 30 sacas/ha (primeira safra) e lavoura situada em clima quente/irrigada, com expectava de 70 sacas/ha na primeira safra: “Vale ressaltar que tais exigências reference a extração total da planta (raiz, tronco, ramos, folhas, frutos), não significando, exatamente, que sejam as doses recomendadas para as adubações, visto que o cafeeiro também obtêm parte desses nutrientes oriundos, principalmente, da matéria orgânica e auto-ciclagem de nutrientes ou ainda de adubação verde e etc”. Mais detalhes no livro Composição Química do Cafeeiro de Santinato & Santinato, (2019).
Para as lavouras adultas separa-se as exigências anuais para a vegetação e soma-se as exigências da frutificação, que variam de acordo com a carga pendente:
Para isso usa-se a fórmula:
D = DV + (DF x PE)
Em que:
D = Dose do nutriente (kg/ha)
DV = Dreno vegetação = Extração do nutriente para vegetação (kg/ha)
DF = Dreno frutificação = Conteúdo do nutriente para compor uma saca de café beneficiado de 60 kg) (kg/ha)
PE=Produtividade esperada em sacas de café beneficiadas de 60 kg/ha
N = 138 a 201 + (5.1 x PE)
Os valores de 138 a 201 são oriundos da exração para vegetação, vide Tabela a seguir. O valor de 5,1 é referente a quantidade de N necessária para compor uma saca de café (grão mais palha).
Existem também uma série de ajustes nas recomendações em função, principalmente, dos teores de M.O do solo, densidade de plantas, clima e variedade.
Além da atender as exigências (em nível de nutriente) corretamente, deve-se alocar os nutrientes em tempo hábil, conforme sua extração, que se comporta diferentemente ao longo das fases fenológicas, como se vê a seguir:
Figura 2. Extração de N do fruto inteiro (grão mais casca) e nas estruturas vegetativas (raiz, tronco, ramos e folhas) ao longo dos quatro principais estágios fenológicos do cafeeiro para produtividades de 52 sacas/ha (clima quente e irrigado) e 32 sacas/ha (clima ameno/sequeiro), na média de seis safras.
Fonte: Santinato & Santinato, (2020).
Em muitos casos, devido a muitas circunstâncias, tais como, excesso de chuvas e impossibilidade de adubação em tempo hábil, ou ainda, secas prolongadas durante o período de adubação (afetando as lavouras de sequeiro), mal planejamento agrícola com compra insuficiente dos adubos, ou até mesmo atraso na entrega do fertilizante e também erros nas avaliações prévias de produtividade com sub-estimação da carga.
Quando isso ocorre, os danos, podem, muitas vezes, serem irreversíveis. Em muitas situações de lavouras apresentando depauperamento, ainda com os frutos nos pés amadurecendo, mesmo com a aplicação extra dos adubos, as respostas são pequenas. Aparentemente as respostas das adubações via solo são pouco eficientes por algum motivo ligado ao sistema radicular. Quando isso ocorre deve-se fazer complementações nutricionais via foliar, com sucessões de aplicações de nutrientes, aminoácidos, que na prática vem apresentando efeitos benéficos ao cafeeiro.
Dessa forma juntamente com os fungicidas e inseticidas escalados para serem pulverizados em determinado talhão, em função do programa fitossanitário, deve-se adicionar uma completação nutricional. Tal complementação é variável, principalmente com relação aos resultados das análises foliares. Comumente se aplica os seguintes nutrientes nas devidas proporções: 3 kg/ha de MAP + 2 kg/ha de sulfato de Mg + 3 kg/ha de KNO3 + 3 kg/ha de sulfato de amônio + 20 kg/ha de açúcar ou melaço. Essas recomendações são aplicadas com êxito, há décadas, em milhares de hectares de café, com amplas respostas satisfatórias e reduzem o depauperamento.
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