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T Ó P I C O : Competividade dos Cafés do Brasil ladeira abaixo

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Competividade dos Cafés do Brasil ladeira abaixo


Autor: Celso Luis Rodrigues Vegro

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3 comentários

Último comentário neste tópico em: 14/05/2020 18:53:19


Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 13/05/2020 14:58

 

Competividade dos Cafés do Brasil ladeira abaixo

 

          O gatilho de início dos trabalhos de colheita disparou na maior parte dos cinturões cafeeiros brasileiros.  A safra 2020⁄2021 que acaba de iniciar promete ser das mais importantes da década, pois reuniu ciclo de alta; qualidade elevada (uniformidade de maturação); cotações favoráveis aos cafeicultores; estoques declinantes e compradores ávidos pelo produto como nunca antes se experimentou.

         A trajetória da cafeicultura brasileira, nas três últimas décadas, foi pautada pelos ganhos de produtividade e de qualidade advindos de inter-relações multidimensionais, ou seja, da competitividade sistêmica. O êxito da evolução da cafeicultura esboça exemplo palpável desse fenômeno, fundada em aspectos como: incremento contínuo da produtividade dos fatores (terra, trabalho e capital alocados nas lavouras), crescimento setorial sustentado, competitividade internacional pautada na competência e tradição dos operadores do comércio exterior, competência científica e tecnológica (ecossistema de inovação constituído pela inteligência institucional agronômica brasileira), capacitação permanente dos recursos humanos e o mais importante, crescimento econômico com equidade social.

         Todavia, esse arsenal sistêmico de fatores indutores de ganhos de competitividade da cafeicultura brasileira pode estar ameaçado pelos reflexos da crise sanitária em âmbito global. O ambiente de baixo crescimento imbicando para a deflação que já prevalecia antes da pandemia foi agudamente intensificado. O despreparo das lideranças políticas no enfrentamento do momento que vivemos, aprofundou as incertezas sobre o ambiente de negócios e a elaboração de cenários para a futura retomada.

         A cafeicultura situa-se, majoritariamente, em países emergentes e em desenvolvimento posicionados na faixa intertropical do globo. São países que esboçam repertório de fragilidades de distintas naturezas (déficits fiscais e na balança de pagamentos, desigualdade social, democracias instáveis, dependência de insumos modernos e industriais de países centrais, etc..). A recessão global para qual foi empurrada a humanidade será especialmente dramática nesses países, com empobrecimento de sua população, aumento do desemprego e recrudescimento da fome.

         Detendo as maiores produção e exportação mundiais e a segunda colocação no consumo da bebida, os acontecimentos recentes no Brasil trazem preocupações relevantes ao futuro da manutenção dessas conquistas. É alarmante o esvaziamento das instituições responsáveis pela pesquisa, desenvolvimento e inovação, repudiado tanto dentro como fora do país, passando pela incapacidade em conduzir ações unificadas que permitam uma recuperação imediata dos negócios com retomada das atividades econômicas. Soma-se a esse panorama a crescente desconfiança internacional com os novos limites testados para as políticas fiscal e monetária (novo ambiente macroeconômico derivado da resposta a emergência sanitária) adotadas pelas autoridades governamentais.

         A atual crise brasileira (combinação de sanitária, econômica e política) catapultou a desvalorização do real perante o dólar. Desde janeiro de 2020 até 11 de maio de 2020 a disparada do dólar acumula mais de 32% de alta (sinalizando desenfreada fuga de investidores do país), sendo a moeda que mais perdeu valor no mundo ao longo do corrente ano. A elevação dos custos financeiros dos empréstimos contratados internacionalmente poderá produzir uma escalada das recuperações judiciais entre CNPJ’s. Por outro lado, o temor de que a valorização do dólar se intensifique, conduz às empresas endividadas no exterior a antecipação de suas amortizações, retirando do caixa recursos imprescindíveis para o futuro cenário de retomada, elevando o custo do capital (juros) Ademais, o custo de eventuais novas contratações se tornou economicamente inviável para o padrão de formação de preços de nossa economia.

         O baixo patamar da poupança interna, historicamente, vigente no país torna inescapável a necessidade de atrair capital externo para a contratação de projetos como os de infraestrutura, por exemplo. Esse estrangulamento retira potenciais ganhos de produtividade de toda a matriz produtiva nacional.

         A acentuada desvalorização do real depaupera, comparativamente a parâmetros internacionais, a força produtiva, excetuando-se, evidentemente, aquela minoria que recebe proventos em dólar. Esse empobrecimento amplia o fosso entre detentores de riqueza e aqueles que sobrevivem mediante a venda de sua força de trabalho (ainda mais precarizada após a reforma trabalhista do governo anterior). Na abordagem sistêmica da competitividade, os avanços pró-competitivos ocorrem na medida que o crescimento ocorra em concomitância com a equidade, algo que a desvalorização, nesse momento subtrai.

         Os benefícios de curto prazo da desvalorização cambial estão sendo comemorados por todo o segmento de commotidies agropecuárias. Na cafeicultura os custos médios posicionam-se, atualmente, abaixo dos preços praticados, permitindo captura de rentabilidade positiva para parcela majoritária dos cafeicultores. Entretanto, a médio e longo prazo a competitividade forjada por cambio depreciado não trás sustentação aos sistemas produtivos, pois se assenta em mão de obra barata e empobrecida (ou seja, com limitada capacidade de consumir) e moeda fraca, sendo, portanto, de natureza espúria frente a real que deriva da construção de ganhos sustentáveis na produtividade dos fatores.

         O imediatismo característico da sociedade brasileira aplaude a nova situação cambial. Entretanto, trata-se mais de um retrocesso na condição de país, expiando a construção de projeto nacional menos eivado pela heterogeneidade, fator que demonstra na atual crise sanitária sua mais mortal face. Um país formado por ilhas de excelência jamais se desenvolverá, tornando-se sistemicamente competitivo, inclusive sua cafeicultura, ou seja, trata-se de mais um capítulo de nosso malfadado modelo da modernização conservadora.

 

 

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr.,MS, Pesquisador Científico do IEA

celvegro@iea.sp.gov.br

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João Marcos Altieri Ramos comentou em: 14/05/2020 17:25

 

Macroeconomia

 

Prezado Sr. Celso Vegro,

Aproveito a oportunidade para agradecer por fazer-nos pensar fora da caixinha, sempre com um olhar critico.

No entanto, pessoalmente não sei se as questões econômicas derivadas da pandemia tem relação tão forte com a competitividade dos cafés do Brasil como apresentado.  Acredito também que mesmo que ocorra redução da demanda internacional do café, os Cafés do Brasil ainda estarão em melhor posição em relação aos outros países, principalmente aqueles produtores de Coffea arábica.  

Reitero meu apreço e admiração !

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Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 14/05/2020 17:57

 

Farra

 

Amigo Altieri

Numa única frase tudo aquilo que escrevi em três: a farra cambial esconde tremendas fragilidades da economia e agronegócio brasileiros.

Grato pelo prestígio

Abçs

Celso Vegro 

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