T Ó P I C O : IMPORTAÇÕES DE CAFÉ VERDE: a mais determinante das políticas para o café
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IMPORTAÇÕES DE CAFÉ VERDE: a mais determinante das políticas para o café
Autor: Celso Luis Rodrigues Vegro
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3 comentários
Último comentário neste tópico em: 23/11/2016 05:26:22
Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 21/11/2016 07:43
IMPORTAÇÕES DE CAFÉ VERDE: a mais determinante das políticas para o café
O atual momento da economia cafeeira, sem desprezo pelo que passou e/ou por aquilo que está por vir, encontra-se prenhe de desafios. Após duas safras minguadas de arábica (2014/15 e 2015/16) associada ao colapso na colheita de conilon capixaba (safra 2016/17), o suprimento de café no Brasil margeia a falência. Cotações para o conilon superam as do arábica de bebida dura, obrigando processadores (torrefadoras e solubilizadoras) substituírem em seus blends o conilon por grãos de menor qualidade (riados, rio e escolhas), visando conter a escalada dos custos de produção industriais.
Diante do caráter extremo em que se encontra o atual fluxo de suprimento de café, sob a inexistência de estoques substanciais, a abertura para as importações de matéria prima de outras procedências consiste em decisão estratégica a ser enfrentada pelo segmento, particularmente, de parte mais conservadora das chamadas lideranças da cafeicultura que, historicamente, relutam em apoiar tal inciativa.
O Brasil anseia por mais e melhor reconhecimento seja nos fóruns internacionais e/ou capacidade de atração de empresas transnacionais (célere reestruturação do capital já atuando no segmento), ainda que o contexto político recente obstaculize essa pretensão. Ingrediente básico dessa proposição é exibir postura mais aberta ao comércio internacional, inclusive naqueles segmentos em que o país é competitivo em preços e qualidade, como é o caso do café.
Consiste em miopia ignorar que a busca por maior adensamento do valor na cadeia produtiva do café em território nacional seja condição decisiva na sustentabilidade desse agronegócio. A exclusiva coordenação por preços praticada pelo mercado mostra-se incapaz de garantir previsibilidade para o negócio e promotora de instabilidades crônicas. Não se escorrega ao exagero desconfiar de que o café represente um autêntico agronegócio diante da quase inexistência de contratos mediando os direitos de propriedade do produto.
Sem a possibilidade de importar grãos de origens diversas das disponíveis no Brasil, o segmento se mantém distante da meta de adensamento do valor e totalmente refém da gangorra dos preços. O ingresso de novas companhias e a expansão das atuais seria catapultado caso fosse flexibilizada as importações, evidentemente, mediante regras bem definidas prevendo, inclusive, auditorias independentes capitaneadas pelas entidades representativas da lavoura.
Atualmente o Brasil é importador líquido de café torrado e moído, particularmente, sob a modalidade de monodoses. Estatísticas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), todos os meses divulgadas publicamente, exibem trajetória de crescimento das importações de café pelo país, alcançando, em 2015, 80,52 mil sacas ao valor de US$67,04 milhões, representando preço médio de US$832,68/sc. O salto entre 2013 para 2015 foi de 109% e de 146%, para valores e quantidades, respectivamente.
TABELA 1 – Importações de café T&M, Brasil, 2013 a 2015
Item |
|
2013 |
|
2014 |
|
2015 |
Valor (US$ milhão) |
|
32,09 |
|
47,88 |
|
67,04 |
Quantidade (mil sc) |
|
32,78 |
|
38,58 |
|
80,52 |
Preços médio (US$/sc) |
|
978,90 |
|
985,65 |
|
832,68 |
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de www.agricultura.gov.br/vegetal/estatísticas
Ainda segundo a mesma fonte estatística, entre janeiro e outubro, a despesa do país com importações de café T&M alcançou US$44,57 milhões com a aquisição de 49,33 mil sacas ao custo de US$903,35 a unidade. Comparativamente, no mesmo período referenciado, as exportações brasileiras de T&M somaram US$8,6milhões, representando 30,30 mil sacas ao preço médio de US$283,37/sc. Fácil concluir que são abissais as diferenças entre dinâmica importadora e exportadora desse produto agroindustrial.
Estudo econométrico determinou que o incremento de 10 mil sacas de café T&M destinado às exportações se traduziria na geração de 88 novos postos de trabalho, sendo: 9 diretos, 8 indiretos e 70 pelo efeito renda1. Em um país que deverá exibir cerca de 14 milhões de desempregados ao encerramento do corrente ano. Assim, qualquer medida que estimule a expansão das exportações de café T&M possui importância sócio-econômica ímpar.
Maior ousadia teria o governo federal em se posicionar favoravelmente as importações de café, incluindo-se aquelas não destinadas às operações de draw back. A insuficiência de suprimento de matéria prima vivenciada pelo segmento não será revertida no curto prazo (pelo menos nas duas próximas safras), fragilizando as indústrias torrefadoras e solubilizadoras que ofertam 21 milhões de sacas demandadas internamente.
Estabelecer mandato para as importações de café2 pode abrir espaços de negociação dentro do segmento. A representação da produção, por exemplo, pode vincular a essa medida a destruição de cafés baixos comumente utilizados pela indústria. A retirada do produto no armazém portuário somente seria autorizada após laudo da CONAB ou das Secretarias Estaduais de Agricultura atestando a destruição de proporção de produto impróprio previamente definido pelo pacto firmado (2:1; 5:2, etc...)3.
Dessa forma desenhada a política teria inúmeros benefícios: a) sinalizaria ao mundo que o Brasil não teme a concorrência pelo seu mercado; b) expandiria as exportações com maior densidade de valor; c) abriria novas vagas de trabalho especializado; d) estabeleceria diretriz orientada pela melhoria da qualidade do produto o que induziria maior ritmo de crescimento do mercado interno, pois como já se comprovou cientificamente, maior qualidade tem favorecido o aumento do consumo.
Os cafés T&M destinados à parcela de menor renda da população são produtos posicionados no limiar da execração4 (blend com mais de 1.000 defeitos combinado com escolhas e profundamente torrado produzindo o chamado café forte!). A bebida por intermédio desse pó preparada exige quantidade extra de açúcar para se tornar menos intragável. Caso o sistema público de saúde tivesse estatísticas precisas poderíamos relacionar o incremento dos casos de diabetes e de obesidade decorrentes do consumo excessivo de açúcar. Parte considerável das despesas adicionais ao orçamento público para lidar com ambas as moléstias provém do inofensivo cafezinho superadoçado.
Especialmente após a desvalorização do real, a cadeia produtiva do café no Brasil (reparem que se evitou o emprego do conceito de agronegócio), esta em condições de conviver com a entrada de grãos de origens diversas. Ademais, a repercussão internacional causada pela abertura do mercado brasileiro às importações de café traria, instantaneamente, repercussões sobre as cotações, pois, atualmente, o país é o segundo maior consumidor da bebida, exibindo taxas de crescimento que logo o levará a liderança mundial. Cotação mais elevada é o que os cafeicultores mais anseiam, sendo no fundo disso que trata a mais importante das políticas para o café
O autor agradece aos comentários e sugestões oferecidas pelo cafeicultor e corretor Marco Jacob.
1 VEGRO, C.L.R et al. Do café verde ao café torrado e moído: vantagens e dificuldades na exportação, in: Revista Brasileira de Comércio Exterior (RBCE), ano XIX, jul/ago/set/ 2005. 60-71pg.
2 Obviamente a legislação tem que oferecer garantias de que aspectos fitossanitários; relativos à qualidade e em seu processo produtivo adotem-se técnicas de manejo que se aproximem das exigências brasileiras de respeito ao meio ambiente e às questões trabalhistas serão exigidas dos potenciais exportadores ao Brasil.
3 A história econômica do café já foi marcada pela destruição do produto como política de governo capitaneada pelo Departamento Nacional do Café (DNC). Entre 1927 e 1934 o Brasil colheu quatro supersafras (acima de 30 milhões de sacas). Tendo fracassado a chamada defesa permanente dos preços, o governo federal passou a adotar a seguinte política: 30% da safra para exportação, 30% para o mercado interno e os 40% restantes (parcela de baixa qualidade) seria destruída (queima ou lançamento ao mar). Entre 1931 e 1944, foram destruídas 78 milhões de sacas.
4 Há alguns anos esse analista cunhou palavra marzanha para identificar os cafés baixos. Trata-se de corruptela da palavra etíope para veneno.
Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr, MS, Pesquisador Científico do IEA
celvegro@iea.sp.gov.br
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Marco Antonio Jacob comentou em: 21/11/2016 19:46
A visão do proprio umbigo
Celso ,
seu artigo tem uma lucidez impecavel .
a velha e arcaica liderança não enxerga um palmo a frente , apenas o proprio umbigo.
quando as lideranças cruzam os braços e permitem ( até incentivam ) o uso de grão pretos e ardidos no consumo dos brasileiros , você expressou bem a palavra marzanha , pois estão permitindo envenenar a população brasiliera .
Convido as lideranças para um debate aberto e amplo para discutir as mazelas da cafeicultura basileira.
Quem sabe as lideranças consigam enxergam além do proprio umbigo.
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Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 22/11/2016 13:05
Lucidez
Prezado MArco Jacob
Grato pelo prestígio. Seu incentivo foi decisivo para que o artigo fosse redigido. Então obrigado ao amigo.
O artigo terá um desdobramento para tornar a conversa menos achismo. Aguarde.
Abçs
Celso Vegro
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