T Ó P I C O : Por que os Estados Unidos amam café, mas quase não produzem?
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Por que os Estados Unidos amam café, mas quase não produzem?
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 27/07/2025 21:17:06
Leonardo Assad Aoun comentou em: 27/07/2025 21:38
Por que os Estados Unidos amam café, mas quase não produzem?
País da América do Norte planta apenas 1% do grão consumido internamente
Por Daniela Walzburiech e Isadora Camargo — São Paulo e Florianópolis/Globo Rural
Entenda relação do café brasileiro com os EUA — Foto: Toni Cuenca/Pexels
O café é mais do que uma simples bebida para os norte-americanos. Ele impulsiona a economia do país governado por Donald Trump e mostra por que ocupa as primeiras colocações nos rankings mundiais de maiores consumidores e importadores do grão. Mas para se manter líder em consumo de café, os EUA precisam comprar 99% do grão de fora de seu território, já que a produção é inexpressiva. Daí vem a preocupação com a guerra tarifária.
Mesmo sendo o país das tendências de como se toma café e tendo, ao menos, 83 mil cafeterias espalhadas no país em 2024, segundo a Mordor Inteligence, a produção é de apenas 1%. Os poucos cafezais estão concentrados no Havaí.
E por que os EUA plantam tão pouco? De acordo com João Pedro Querino, engenheiro-agrônomo da Fundação Procafé, a complexidade na cadeia do grão para o país da América do Norte é explicada pela combinação de três fatores: clima, geografia e custos.
“Os Estados Unidos figuram entre os maiores consumidores de café do mundo. No entanto, quando se trata da produção, o cenário é bem diferente e, praticamente, não existe o cultivo em escala comercial para atender o mercado interno”, diz.
O Brasil é o maior fornecedor de café aos EUA. Só em 2024, foram embarcadas 8,1 milhões de sacas de 60 kg aos norte-americanos. O valor foi equivalente a uma receita de US$ 2 bilhões e representa, aproximadamente, 18% do total exportado, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
De acordo com a National Coffee Association (NCA, na sigla em inglês), que é a entidade representante das indústrias norte-americanas, os EUA dependem do grão brasileiro para compor os blends já inseridos no varejo e nas cafeterias. Além disso, segundo o presidente da associação, William Bill Murray, o país não tem condições de produzir café em escala comercial e nem direcionar investimentos para suprir o ritmo. Hoje, cada consumidor de café nos EUA bebe, em média, três xícaras por dia, conforme a organização.
“O café ocupa um lugar único no cotidiano dos americanos — nenhuma outra bebida é tão querida e presente. Sua popularidade gera grandes benefícios para os consumidores e para toda a economia dos EUA. Esperamos que esse caso de amor com o café dure por muitas décadas”, descreveu Murray.
O representante, que esteve em Campinas (SP) no início de julho para participar do evento multilateral Coffee Dinner Summit, organizado pelo Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), é enfático na avaliação que a economia americana sofreria um forte impacto se taxas forem impostas sobre o café que entra no país, em especial o proveniente do Brasil. Isso porque, a cadeia de café gera ao menos 2 milhões de empregos nos EUA.
Uma das principais conclusões da pesquisa da NCA, publicada em abril, é que mais americanos bebem café diariamente do que qualquer outra bebida. Até a água engarrafada fica em segundo lugar entre os hábitos da população. Para ele, qualquer ajuste de preço - ou até falta de grão para torrar em uma percepção mais pessimista - conferiria mais que um desconforto no consumo.
O que acontece nos EUA? Entenda!
A espécie Coffea arabica L., responsável pelos cafés mais apreciados globalmente e que representa também a maior parte do que é comprado do Brasil, exige condições específicas para se desenvolver e produzir em grande quantidade, como clima quente, umidade e altitude.
As características, por sua vez, são típicas da faixa equatorial conhecida como "cinturão do café" e engloba países como Brasil, Colômbia, Etiópia e Vietnã. O que eles têm em comum? São os maiores produtores do mundo.
Enquanto isso, a maior parte do território dos Estados Unidos não atende a esses requisitos para a produção cafeeira. Lá, as temperaturas são muito baixas no inverno, a altitude é inadequada e a baixa umidade fica inviável.
“A única exceção é do país é o Havaí, que produz o prestigiado Kona Coffee, voltado, principalmente, ao mercado de luxo e ao turismo” aponta o especialista da Fundação Procafé.
Nas poucas regiões americanas em que o clima é favorável, o alto custo da produção pesa contra os agricultores, que teriam gastos excessivos com terra, mão-de-obra e infraestrutura.
Contudo, o consumo de café no território americano chama a atenção. Dois terços dos adultos consomem café todos os dias (66%) — número superior ao consumo diário de chá, suco, refrigerante e água engarrafada –, e que representa um aumento de quase 7% em relação a 2020, mostra o relatório Tendências Nacionais de Dados sobre Café – Primavera de 2025 (NCDT, na sigla em inglês), da NCA, que evidencia a presença do café na rotina dos americanos e sua popularidade.
A bebida representa 8% do setor de food service nos EUA. segundo outro relatório de impacto econômico da NCA de 2023. Além disso, a pesquisa também identificou um crescimento de quase 18% no consumo de cafés especiais nos últimos cinco anos.
O que vai acontecer no Tarifaço?
Para Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV (FGV Agro), o cenário que envolve a venda e a compra de café entre Brasil e Estados Unidos a partir de 1º de agosto, data em que Donald Trump prometeu iniciar a taxação de produtos brasileiros em 50%, está completamente indefinido.
“É um enorme ponto de interrogação. O Brasil conseguiria realocar esse café, não de imediato, mas conseguiria. Passamos por um período, e ainda estamos passando, com o café operando em patamares elevados. E parte disso é pelos estoques muito baixos na indústria. Assim, teríamos pela frente a recomposição desse estoque. Demanda para o café vai ter. Principalmente, o arábica, que é a variedade que exportamos para os Estados Unidos”.
No outro lado da história, e que envolve o país americano, a dificuldade também promete ser grande. Isso porque, não há um fornecedor na escala do Brasil para atender o mercado com o grão “preferido”.
“Podem dizer que vão buscar no Vietnã e na Indonésia, mas eles não fazem o arábica, então é uma outra variedade de café e que vai bater no blend. É complicado. É um ponto de interrogação saber qual lado da balança vai pesar mais”, finaliza.
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