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T Ó P I C O : Arábica ou Conilon? Quem ganha no jogo da resiliência aos estresses climáticos

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Arábica ou Conilon? Quem ganha no jogo da resiliência aos estresses climáticos


Autor: Sergio Parreiras Pereira

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Último comentário neste tópico em: 03/07/2025 21:55:32


Sergio Parreiras Pereira comentou em: 03/07/2025 21:19

 

Arábica ou Conilon? Quem ganha no jogo da resiliência aos estresses climáticos

 

Arábica ou Conilon? Quem ganha no jogo da resiliência aos estresses climáticos

Prof. José Donizeti Alves

Na semana passada, tive a oportunidade de realizar palestras em Linhares, Venda Nova do Imigrante e Lajinha, onde fiz uma análise comparativa sobre a resiliência dos cafés arábica e conilon, com base em suas produtividades ao longo da última década, segundo a Conab (figura abaixo). Para quem não pôde estar presente, gostaria de compartilhar os principais insights do que foi discutido.

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A evolução da produtividade de cafés arábica e conilon nos últimos dez anos, permite observar alguns comportamentos distintos entre esses dois cafés.

1. De 2015 a 2020

(i) O café arábica manteve sua tradicional bienalidade, enquanto o conilon apresentou uma trajetória de crescimento praticamente contínua.

(ii) Nesse período de cinco anos, a produtividade do arábica cresceu em 10,5 sacas/ha, enquanto a de conilon aumentou em 13,5 sacas/ha.

2. De 2021 a 2025

(i) Após uma forte quebra de safra em 2021, a produtividade de café arábica registrou um leve crescimento até 2024, mas voltou a sofrer uma queda significativa neste ano. O conilon continuou sua trajetória crescente

(ii) No acumulado dos últimos cinco anos, houve um aumento na produtividade de 3 sacas/ha para o arábica e de 7 sacas/ha para o conilon.

A análise dos dados do café arábica nos últimos cinco anos nos mostra que a produtividade não retornou aos níveis observados em 2020 e, nesse intervalo, esta espécie deixou de expressar sua tradicional bienalidade, sinalizando uma mudança relevante no seu padrão produtivo. Esses resultados nos levam à constatar que, apesar dos avanços no conhecimento agronômico, no desenvolvimento de novas variedades, nas práticas de manejo e na oferta de novos insumos, a capacidade produtiva do arábica permanece estagnada. Isso se deve, sobretudo, à elevada pressão ambiental desfavorável ao seu cultivo, que tem comprometido sua reação aos estresses e impedido a superação dos níveis alcançados em 2020. Diante desse cenário, torna-se urgente investir no aumento da resiliência do arábica aos eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes em suas regiões produtoras. Em contraste, o café conilon tem demonstrado elevada resiliência às adversidades climáticas no mesmo período, superando os impactos sofridos em 2023 e 2024 e caminhando, agora, para uma safra recorde em resposta a uma produtividade de 50,4 sacas/ha.

A literatura científica reúne uma vasta gama de estudos que esclarecem os fatores responsáveis pela superior eficiência produtiva de determinados clones de conilon em comparação ao café arábica, notadamente em regiões de baixa altitude, frequentemente expostas a estresses térmico e hídrico. Nesse contexto, destacam-se diversos mecanismos fisiológicos e morfológicos que interagem entre si e conferem maior tolerância do conilon ao calor e à seca. Sintetizando, este texto se concentrará exclusivamente nos mecanismos relacionados à produtividade de energia, via fotossíntese, pelos clones mais produtivos de café conilon, a saber:

a) Sistema radicular profundo, volumoso e bem distribuído no solo. O desenvolvimento de raízes com profundidade entre 1,5 a 2,0 metros permite a absorção de volumes adicionais de água e nutrientes, inacessíveis a sistemas radiculares mais superficiais, o que confere vantagem adaptativa em ambientes de estresse hídrico e térmico.

b) Maior turgescência foliar. A condução eficiente da água absorvida pelas raízes até as folhas é viabilizada pela elevada condutividade hidráulica do xilema, o que assegura rápida reposição da água transpirada, promovendo a manutenção da turgidez celular e, consequentemente, da integridade foliar.

c) Manutenção da hidratação foliar por períodos prolongados. O fornecimento contínuo de água à parte aérea da planta parece estar associado a uma maior densidade estomática nas folhas do café conilon. Além disso, a manutenção de altos teores de água foliar, mesmo sob potenciais hídricos extremamente baixos, evita a dessecação das folhas. Esse mecanismo de conservação hídrica, também pode estar relacionado à elevada rigidez das paredes celulares presentes nas folhas da espécie.

d) Maior eficiência no balanço entre absorção de CO₂ e perda de água via estómatos. A fotossíntese no café conilon é fortemente influenciada por limitações difusivas à entrada de CO₂ e à perda de água. Observa-se que os clones mais tolerantes à seca e ao calor, dotados de sistema radicular profundo e com elevada sensibilidade estomática, fecham seus estomatos mais rápido frente aos estresses ambientais. Embora essa estratégia reduza, temporariamente a assimilação de carbono em favor da conservação hídrica, ela favorece a retomada do crescimento após o período de estresse.

e) Sistema antioxidante mais eficiente. Estudos indicam que, tanto em condições ambientais favoráveis quanto adversas, o café conilon é capaz de ativar de forma mais rápida e eficaz seus mecanismos antioxidantes, o que contribui significativamente para a maior tolerância da espécie à seca e ao calor.

f) Maior desempenho fotossintético. Os clones de café conilon exibem maior taxa fotossintética em condições ideais de cultivo, e essa superioridade funcional se mantém, ainda que em níveis reduzidos, mesmo em cenários de estresse térmico e hídrico. Além disso, a capacidade de recuperação fotossintética após o estresse é notadamente mais ágil nessa espécie.

Vale destacar que esta análise desconsidera eventuais variações na área cultivada de café arábica e conilon, por considerá-las pouco significativas diante da forte pressão ambiental enfrentada nas lavouras. Assim, as diferenças observadas no desempenho produtivo refletem, sobretudo, a distinta capacidade de adaptação de cada espécie, levando à conclusão de que, no jogo da resiliência aos estresses climáticos, quem vence é o conilon.

 

         

 

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