T Ó P I C O : Como o café afeta o cérebro durante o sono? Novo estudo explica
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Como o café afeta o cérebro durante o sono? Novo estudo explica
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 30/05/2025 10:50:09
Leonardo Assad Aoun comentou em: 30/05/2025 10:30
Como o café afeta o cérebro durante o sono? Novo estudo explica
A cafeína, na verdade, altera a natureza fundamental de qualquer sono, fazendo o cérebro trabalhar horas extras mesmo durante os períodos de descanso
A cafeína transforma o cérebro adormecido em um estado mais complexo e hiperativo — Foto: Freepik
Aquela xícara de café que você tomou depois do jantar não só te fez ficar se revirando na cama, como também alterou fundamentalmente o funcionamento do seu cérebro durante o sono. Novas pesquisas revelam que a cafeína não bloqueia apenas o sono; ela transforma o cérebro adormecido em um estado mais complexo e hiperativo, que se assemelha a estar mais próximo do pico de desempenho mental, de acordo com um estudo publicado na revista científica Communications Biology.
Ainda mais surpreendente: essa transformação cerebral induzida pelo café afeta os jovens adultos com muito mais força do que as pessoas de meia-idade, mostrando que sua relação com a cafeína muda drasticamente à medida que envelhecemos.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, analisaram as ondas cerebrais de 40 pessoas saudáveis durante o sono após consumirem 200 miligramas de cafeína (aproximadamente o equivalente a duas xícaras de café) ou uma pílula de placebo. Os participantes passaram duas noites em um laboratório do sono.
A atividade cerebral foi registrada usando eletroencefalografia multicanal ao longo da noite, e a equipe aplicou múltiplas abordagens analíticas para identificar padrões que distinguiam o sono com cafeína do sono sem cafeína. Os resultados mostraram que a cafeína impulsiona o cérebro para o que é chamado de "regime crítico" — um estado em que as redes neurais operam com máxima eficiência e complexidade.
A complexidade e a criticidade do cérebro estão ligadas ao desempenho cognitivo ideal, ao processamento aprimorado de informações e à maior flexibilidade mental. Quando seu cérebro opera nessa zona crítica, ele está essencialmente funcionando a todo vapor, processando informações com mais eficiência e mantendo uma melhor comunicação entre as diferentes regiões cerebrais.
O café reestrutura completamente o sono
A maioria das pessoas presume que a cafeína simplesmente impede um sono de qualidade, mantendo-o acordado por mais tempo ou tornando o sono mais leve. O estudo revela algo ainda mais fascinante: a cafeína, na verdade, altera a natureza fundamental de qualquer sono, fazendo seu cérebro trabalhar horas extras mesmo durante os períodos de descanso.
Durante o sono não REM (a fase profunda e restauradora que normalmente apresenta baixa atividade cerebral), os participantes que consumiram cafeína apresentaram aumento drástico na entropia e na complexidade cerebral. Seus cérebros adormecidos exibiram padrões mais semelhantes aos da vigília, com processamento de informações e comunicação neural intensificados, o que normalmente não ocorreria durante essa fase crucial de recuperação.
Esse efeito foi muito mais forte em adultos mais jovens, com idades entre 20 e 27 anos, em comparação com participantes de meia-idade, com idades entre 41 e 58 anos, principalmente durante o sono REM. Os cérebros dos jovens apresentaram aumentos significativos em múltiplas medidas de complexidade e criticidade quando consumiram cafeína, enquanto os dos adultos mais velhos apresentaram respostas muito mais fracas.
Cérebros jovens reagem mais
As diferenças relacionadas à idade provavelmente decorrem de alterações nos receptores de adenosina, que são os "interruptores do sono" do cérebro que a cafeína bloqueia. À medida que as pessoas envelhecem, elas naturalmente perdem os receptores de adenosina A1, o que significa que a cafeína tem menos alvos para afetar.
Com mais receptores disponíveis em pessoas mais jovens, a cafeína pode exercer uma influência mais forte na dinâmica cerebral. Essa descoberta tem implicações práticas para o consumo de cafeína em todas as faixas etárias. Embora adultos de meia-idade possam sentir que conseguem lidar melhor com aquele expresso depois do jantar do que antes, os jovens adultos estão experimentando mudanças mais drásticas em sua atividade cerebral durante o sono. Essas são mudanças que podem afetar as funções restauradoras do sono.
Para entender o que os pesquisadores querem dizer com dinâmica cerebral "crítica", considere as redes neurais como uma orquestra perfeitamente afinada. Pouca atividade e o cérebro opera de forma lenta e ineficiente. Excesso de atividade cria caos. Mas, exatamente no ponto crítico, o cérebro atinge o desempenho ideal com o máximo processamento de informações.
A cafeína parece empurrar os cérebros adormecidos para esse estado crítico, particularmente durante o sono não REM. Os pesquisadores mediram isso usando diversas técnicas sofisticadas que observam o quão repetitivos ou variados são os sinais cerebrais e examinam padrões de longo alcance na atividade cerebral.
Todas as medidas apontaram para a mesma conclusão: a cafeína torna o cérebro adormecido mais complexo, mais variável e mais semelhante a um cérebro acordado, altamente ativo. Algoritmos de aprendizado de máquina conseguiram distinguir entre sono com cafeína e sem cafeína com até 75% de precisão, com base apenas nessas medidas de complexidade cerebral.
Pesquisas anteriores sobre cafeína se concentraram principalmente em efeitos óbvios, como o tempo que leva para adormecer, o quanto você se mexe na cama ou mudanças em frequências específicas de ondas cerebrais. Este estudo se aprofundou, utilizando técnicas de análise de ponta para examinar como a cafeína afeta a dinâmica fundamental das redes neurais.
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