Leonardo Assad Aoun comentou em: 28/03/2025 11:47

PREÇOS RECORDES E CONSUMO DE CAFÉ - POR CARLOS H. J. BRANDO

PREÇOS RECORDES E CONSUMO DE CAFÉ

Carlos H. J. Brando

Os dados sobre o aumento dos preços de café para os consumidores no Brasil, segundo maior consumidor mundial depois dos Estados Unidos, me surpreenderam algumas semanas atrás. Enquanto os preços do café tradicional aumentaram quase 50%, os preços dos cafés especiais subiram em torno de 10% apenas. Minha primeira conclusão foi que as margens da indústria e da cadeia de abastecimento mais altas para os cafés especiais permitiram que isso acontecesse mas, à primeira vista, não fazia sentido. Por que aumentos de preço menores para os cafés especiais cujos consumidores têm maior renda?

Pensando melhor concluí que as indústrias que fornecem café tradicional, que operam com margens mais baixas num mercado altamente competitivo, não tiveram alternativa se não aumentar os preços. No entanto, os fornecedores de cafés especiais preferiram não correr o risco de perder seus clientes para o café tradicional e assim diminuíram suas margens, mais altas.

Preços recordes de café, por um lado, e novos produtos, por outro, estão mudando o perfil do consumo.

Dados de vários países consumidores tradicionais mostram que o consumo de café solúvel está crescendo mais rápido que o de outros tipos de café desde o início do aumento dos preços. O Brasil não é exceção; a participação de mercado do café solúvel também tem aumentado. Embora essa tendência possa ser revertida quando os preços do café voltarem ao “normal”, sabe-se que uma porcentagem de consumidores que experimentam um produto diferente em tempos de aumento dos preços tende a permanecer com eles. Isso pode ser potencializado pela ação das indústrias de café solúvel, as do Brasil na vanguarda, para reposicionar seu segmento promovendo produtos de maior qualidade.

Estatísticas sobre o consumo de café Arábica vs. Canéfora (Conilon e Robusta) mostram que o último está ganhando espaço. Esta não é uma tendência nova mas tem ganhado força depois que os preços começaram a subir. O aumento no consumo de Canéfora pode ter duas razões. Primeira, os torrefadores estão utilizando mais Canéfora em seus blends para evitar aumentos acentuados de preço para os consumidores. Segunda, o café Canéfora é o principal componente do café solúvel cuja participação de mercado está aumentando.

Os dados mencionados acima se complementam. Quanto tempo isso vai durar dependerá de como os preços vão se comportar. Não é apenas uma questão de tempo mas também se os preços voltarão ao “normal” ou a um “novo normal” mais alto, como especialistas vem mencionando.

Com tudo isso em mente, as notícias sobre o café “fake” não são surpreendentes. É uma tentativa de baixar os custos para os consumidores oferecendo um produto que não é café mas leva seu nome. Isso tem levantado comentários e comparações com o café infusionado, que é algo totalmente diferente. Café infusionado é bem diferente do café adulterado ou “fake” que resulta da adição de substâncias inferiores de custo mais baixo. Isso nos leva a um segundo ponto: a mudança no perfil do consumo de café.

 Já se foi o tempo em que o café era somente natural, ou lavado, ou cereja descascado (CD). Os cafés que resultam de fermentação, maceração e infusão estão ganhando mercado. O interesse por café infusionado, uma tendência na Coréia do Sul, é também forte no Oriente Médio, como notado no recente evento de café em Dubai. Notícias da China mostram o crescente interesse por cafés com sabores. Embora isto esteja acontecendo principalmente no setor de especiais, poderão estes e outros cafés se expandirem para o mercado principal?

Na visão de especialistas em consumo, o crescimento do café gelado, não mencionado acima, é uma tendência forte e provavelmente sem volta. Entretanto, os cafés fermentados são ainda um pequeno nicho no mercado de cafés especiais que é em si ainda um nicho em muitos países. O futuro só o tempo dirá

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