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T Ó P I C O : Café de terra indígena de Rondônia atinge nota máxima em concurso

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Café de terra indígena de Rondônia atinge nota máxima em concurso


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 22/11/2024 16:32:21


Leonardo Assad Aoun comentou em: 22/11/2024 16:40

 

Café de terra indígena de Rondônia atinge nota máxima em concurso

 

Grão produzido pelo povo Suruí possui 50 itens de aromas, como hibisco, chocolate, caramelo e guaraná

Por Cibelle Bouças — Belo Horizonte/Canal Rural

Celeste Suruí, produtora de café da Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO)

Celeste Suruí, produtora de café da Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO) — Foto: Divulgação

Silvio Leite, da Agricoffee, é provador profissional de cafés há 40 anos e, em todo esse período, só deu nota máxima para três cafés, sendo dois arábicas e um robusta. “Esperava um dia ver um canéfora (espécie que a variedade robusta pertence) atingir nota 100 em qualidade, só não imaginei que seria tão cedo”, conta o especialista.

A nota foi dada recentemente durante a 6ª edição do Concurso Tribos, da 3 Corações, ao café robusta amazônico produzido pelo cacique Rafael Mopimop Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO). A mesa de avaliação contou com nove provadores profissionais, dos quais dois deram nota máxima, seguindo os parâmetros do Fine Robusta Cupping Form, como fragrância, sabor, acidez e equilíbrio, entre outros.

A análise sensorial do café é feita com base de uma lista de 100 itens. No caso do café produzido por Rafael Suruí, Leite encontrou 50 itens, incluindo aroma floral de rosa branca, hibisco e flor de laranjeira, aroma doce de mel, rapadura, caramelo, doce de leite, chocolate amargo, quebra-queixo; aroma frutado de cupuaçu, morango, amora e cassis; aroma de bebidas amarula, guaraná, licor; aromas lácteos de leite ninho, leite condensado; corpo sedoso, cremoso, vigoroso, amanteigado, untuoso e retrogrosto frutoso.

O provador profissional João Vitor Pereira da Silva, mais conhecido como João Coffee, foi outro especialista a dar a nota máxima para o café da etnia Suruí. “Foi a primeira vez na vida que dei nota 100 para um café. Foi muito marcante. Não tenho palavras para descrever esse café a não ser perfeito. É um café que se destacou de tudo que já experimentei na vida”, afirmou. João Vitor disse que o café apresentou alta complexidade de sabores e atributos muito diferenciados dos demais.

Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia nas áreas de colheita, pós-colheita e qualidade do café, diz que o segredo desse café está no fato de ser produzido na região da Amazônia e em área de aldeia indígena, preservando o máximo de integridade do bioma. “Por estar em um ambiente tão íntegro, esse terroir preserva uma microbiota diferente, que interfere na qualidade do café, além do saber fazer indígena”, afirma.

café nota 100 foi apresentado durante a 12ª edição da Semana Internacional do Café (SIC), realizada em Belo Horizonte entre os dias 20 e 22, com direito a sessões de degustação para os visitantes da feira.

Representante

café vencedor do concurso foi representado por Celeste Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro. Ela diz que o território Suruí conta com 36 aldeias e 3 mil pessoas. Desse total, 176 são produtores indígenas de café. Juntos, eles cultivam 245 hectares de robusta dentro do território Sete de Setembro. A produção da última safra ficou em torno de 700 sacas.

“A gente trabalha com agroflorestal. Planta no meio do cafezal árvores que são importantes para a nossa cultura, que é o cacau, a castanha. As árvores dão sombra para o café. Isso também diferencia o sabor do canéfora robusta”, afirma.

Além de representar o povo Suruí na produção do café robusta amazônico, Celeste Suruí é também a primeira indígena barista do Brasil. Aos 23 anos de idade, ela conta que nunca tinha pensado antes em se tornar barista, apesar da aldeia produzir café robusta desde a década de 1980.

“A gente queria quantidade, e não qualidade. Em 2019, com o início do Projeto Tribos, a gente soube o que era um café especial e começou a ter um outro olhar para o nosso café”, diz Celeste Suruí. Na mesma época, a Coffea Trips e a Associação Kanindé convidou um grupo de mulheres da aldeia para fazer um curso de barista. “Eu fui não para fazer o curso, mas para acompanhar as meninas. Mas a partir dali eu conheci um pouco do café e quis me aprofundar nessa área. Deixei me levar para me profissionalizar”, afirma.

Celeste Suruí é também a primeira indígena barista do Brasil — Foto: Divulgação

Celeste Suruí é também a primeira indígena barista do Brasil — Foto: Divulgação

Projeto Tribos

O Projeto Tribos foi criado em 2019 pela 3 Corações para reconhecer e valorizar o cultivo do café especial 100% robusta amazônico produzido pelas comunidades indígenas. O projeto começou com uma família do povo Aruá e hoje conta com 176 produtores indígenas de sete etnias, que vivem na região entre Cacoal (RO) e Alta Floresta D’Oeste (Terra Indígena Rio Branco), em Rondônia e conta com participação das cooperativas Garah Ixá Coopirb, Coopsur e Coopaiter.

Desde seu lançamento, gerou a venda de mais de 520 toneladas de café robusta amazônico, uma média de 1,5 mil sacas por ano. A iniciativa é uma parceria da 3 Corações com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Embrapa Rondônia, Emater Rondônia, Câmara Setorial do Café, Secretarias Estadual e Municipal de Agricultura e a consultoria Agrocaf.

“É um projeto lindo que dá autonomia, renda e oportunidade para os povos indígenas. Que fortalece seus modos de produção e, acima de tudo, gera muito orgulho e prosperidade para todos os envolvidos. Cada xícara de Tribos conta uma história repleta de significados, carrega a identidade de cada cafeicultor indígena”, afirmou Pedro Lima, presidente do Grupo 3 Corações.

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