T Ó P I C O : Café de terra indígena de Rondônia atinge nota máxima em concurso
Informações da Comunidade
Criado em: 28/06/2006
Tipo: Tema
Membros: 5251
Visitas: 27.186.380
Mediador: Sergio Parreiras Pereira
Comentários do Tópico
Café de terra indígena de Rondônia atinge nota máxima em concurso
Autor: Leonardo Assad Aoun
31 visitas
1 comentários
Último comentário neste tópico em: 22/11/2024 16:32:21
Leonardo Assad Aoun comentou em: 22/11/2024 16:40
Café de terra indígena de Rondônia atinge nota máxima em concurso
Grão produzido pelo povo Suruí possui 50 itens de aromas, como hibisco, chocolate, caramelo e guaraná
Por Cibelle Bouças — Belo Horizonte/Canal Rural
Celeste Suruí, produtora de café da Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO) — Foto: Divulgação
Silvio Leite, da Agricoffee, é provador profissional de cafés há 40 anos e, em todo esse período, só deu nota máxima para três cafés, sendo dois arábicas e um robusta. “Esperava um dia ver um canéfora (espécie que a variedade robusta pertence) atingir nota 100 em qualidade, só não imaginei que seria tão cedo”, conta o especialista.
A nota foi dada recentemente durante a 6ª edição do Concurso Tribos, da 3 Corações, ao café robusta amazônico produzido pelo cacique Rafael Mopimop Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO). A mesa de avaliação contou com nove provadores profissionais, dos quais dois deram nota máxima, seguindo os parâmetros do Fine Robusta Cupping Form, como fragrância, sabor, acidez e equilíbrio, entre outros.
A análise sensorial do café é feita com base de uma lista de 100 itens. No caso do café produzido por Rafael Suruí, Leite encontrou 50 itens, incluindo aroma floral de rosa branca, hibisco e flor de laranjeira, aroma doce de mel, rapadura, caramelo, doce de leite, chocolate amargo, quebra-queixo; aroma frutado de cupuaçu, morango, amora e cassis; aroma de bebidas amarula, guaraná, licor; aromas lácteos de leite ninho, leite condensado; corpo sedoso, cremoso, vigoroso, amanteigado, untuoso e retrogrosto frutoso.
O provador profissional João Vitor Pereira da Silva, mais conhecido como João Coffee, foi outro especialista a dar a nota máxima para o café da etnia Suruí. “Foi a primeira vez na vida que dei nota 100 para um café. Foi muito marcante. Não tenho palavras para descrever esse café a não ser perfeito. É um café que se destacou de tudo que já experimentei na vida”, afirmou. João Vitor disse que o café apresentou alta complexidade de sabores e atributos muito diferenciados dos demais.
Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia nas áreas de colheita, pós-colheita e qualidade do café, diz que o segredo desse café está no fato de ser produzido na região da Amazônia e em área de aldeia indígena, preservando o máximo de integridade do bioma. “Por estar em um ambiente tão íntegro, esse terroir preserva uma microbiota diferente, que interfere na qualidade do café, além do saber fazer indígena”, afirma.
O café nota 100 foi apresentado durante a 12ª edição da Semana Internacional do Café (SIC), realizada em Belo Horizonte entre os dias 20 e 22, com direito a sessões de degustação para os visitantes da feira.
Representante
O café vencedor do concurso foi representado por Celeste Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro. Ela diz que o território Suruí conta com 36 aldeias e 3 mil pessoas. Desse total, 176 são produtores indígenas de café. Juntos, eles cultivam 245 hectares de robusta dentro do território Sete de Setembro. A produção da última safra ficou em torno de 700 sacas.
“A gente trabalha com agroflorestal. Planta no meio do cafezal árvores que são importantes para a nossa cultura, que é o cacau, a castanha. As árvores dão sombra para o café. Isso também diferencia o sabor do canéfora robusta”, afirma.
Além de representar o povo Suruí na produção do café robusta amazônico, Celeste Suruí é também a primeira indígena barista do Brasil. Aos 23 anos de idade, ela conta que nunca tinha pensado antes em se tornar barista, apesar da aldeia produzir café robusta desde a década de 1980.
“A gente queria quantidade, e não qualidade. Em 2019, com o início do Projeto Tribos, a gente soube o que era um café especial e começou a ter um outro olhar para o nosso café”, diz Celeste Suruí. Na mesma época, a Coffea Trips e a Associação Kanindé convidou um grupo de mulheres da aldeia para fazer um curso de barista. “Eu fui não para fazer o curso, mas para acompanhar as meninas. Mas a partir dali eu conheci um pouco do café e quis me aprofundar nessa área. Deixei me levar para me profissionalizar”, afirma.
Celeste Suruí é também a primeira indígena barista do Brasil — Foto: Divulgação
Projeto Tribos
O Projeto Tribos foi criado em 2019 pela 3 Corações para reconhecer e valorizar o cultivo do café especial 100% robusta amazônico produzido pelas comunidades indígenas. O projeto começou com uma família do povo Aruá e hoje conta com 176 produtores indígenas de sete etnias, que vivem na região entre Cacoal (RO) e Alta Floresta D’Oeste (Terra Indígena Rio Branco), em Rondônia e conta com participação das cooperativas Garah Ixá Coopirb, Coopsur e Coopaiter.
Desde seu lançamento, gerou a venda de mais de 520 toneladas de café robusta amazônico, uma média de 1,5 mil sacas por ano. A iniciativa é uma parceria da 3 Corações com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Embrapa Rondônia, Emater Rondônia, Câmara Setorial do Café, Secretarias Estadual e Municipal de Agricultura e a consultoria Agrocaf.
“É um projeto lindo que dá autonomia, renda e oportunidade para os povos indígenas. Que fortalece seus modos de produção e, acima de tudo, gera muito orgulho e prosperidade para todos os envolvidos. Cada xícara de Tribos conta uma história repleta de significados, carrega a identidade de cada cafeicultor indígena”, afirmou Pedro Lima, presidente do Grupo 3 Corações.
Visualizar | | Comentar |