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T Ó P I C O : Café dribla a crise, mas desafios do clima persistem em 2021

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Café dribla a crise, mas desafios do clima persistem em 2021


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 27/07/2021 11:42:13


Leonardo Assad Aoun comentou em: 27/07/2021 11:06

 

Café dribla a crise, mas desafios do clima persistem em 2021

 

Após impacto inicial da COVID-19 e adaptações na colheita, produtores atingiram oferta recorde, investiram e exportação cresceu, mas, agora, geadas preocupam

Por Luiz Ribeiro/Estado de Minas

20210727004852814364aGigantesco produtor de café, o grupo Montesanto Tavares expandiu lavoura nos municípios de Pirapora, no Norte de Minas, e Barreiras, na Bahia (foto: Montesanto Tavares/Divulgação)

A produção recorde e o aumento das exportações do café de Minas Gerais, – estado que detém a maior oferta do grão no país –, em plena pandemia de COVID-19 nem parecem ter enfrentado o turbilhão imposto à economia.

As lavouras sofreram o impacto inicial do inesperado isolamento social necessário para combater a doença que implicou redução ou paralisação de várias atividades, mas se adaptaram ao novo normal nas plantações e colhem resultados. A crise sanitária não foi capaz de mudar um hábito do brasileiro: a predileção pelo cafezinho. 

Com isso, a produção cafeeira, atividade tradicional, se manteve em ritmo de crescimento. Neste ano, surgiram novos desafios, diante da seca e das geadas, num período em que a produção cairá devido ao ciclo natural dos cafezais. 

Esse é o tema da terceira reportagem da série “Reivenção das nossas tradições”, que o Estado de Minas publica desde domingo, mostrando como atividades centenárias e tradicionais do estado, identificadas com a própria cultura do estado estão enfrentando os efeitos da pandemia.

Minas ofertou, em 2020, 34,6 milhões de sacas de café, de acordo com a Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), e foi responsável por 56,15% da produção brasileira, de 61,62 milhões de sacas, 25% a mais que a temporada de 2019, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O avanço dos cafés especiais feitos em Minas e a conquista de mais três indicações geográficas em café – agora são cinco selos – das regiões Mantiquera de Minas, Campos das Vertentes e Matas de Minas confirmam o bom momento do setor.

A produção mineira de café, concentrada na variedade arábica, se distribui por quatro macrorregiões: Sul (Sul, Sudoeste, Oeste e Campos das Vertentes); Cerrado (Triângulo,  Alto Paranaíba e Noroeste); Montanhas de Minas (Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Central e Metropolitana de Belo Horizonte) e Chapada de Minas (Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Norte). O Sul de Minas costuma responde por cerca de metade da oferta.

“Durante a pandemia, em 2020, houve receio inicial no momento da colheita, devido à restrição de municípios ao trânsito de pessoas, principalmente em regiões montanhosas onde há uma necessidade maior de mão-de-obra. Mas, conseguimos passar de maneira exitosa por isso. Tivemos safra recorde, com grandes volumes exportados e consumidos”, afirma Ana Carolina Gomes, analista de agronegócios do Sistema Faemg.

20210727004900262546uNo Norte do estado, terreno promissor para a cultura, que promove transformação ao reter trabalhadores na região, produtores investiram em tecnologia. (foto: Fazendas Apóstolo Simão/Divulgação)

Ela salienta que o consumo de café durante o isolamento social da pandemia foi   algo surpreendente. “Os consumidores ampliaram o consumo no lar  e no trabalho em sistema de home office, propulsores dessa ampliação. Os obstáculos impostos pela pandemia foram superados pelos cafeicultores, que 'se adaptaram às medidas preventivas e de segurança no campo, principalmente na colheita'”, destaca Carolina Gomes. Há estimativas de que o cultivo é desenvolvido em 123 mil estabelecimentos agropecuários no estado.

Responsáveis por mais de 43% das exportações do agronegócio de Minas, as vendas externas do grão alcançaram 28,4 milhões de sacas no ano passado, 4,6% a mais que em 2019. “Em receita, as cifras foram ainda mais positivas, devido ao câmbio favorável e à elevação dos preços do café em virtude das ameaças de menor oferta, sendo superior em 8,4% se comparado ao ano de 2019”, explica a representante da Faemg.

O investimento em tecnologia foi uma das medidas adotadas pelo cafeicultor Carlos Humberto de Morais em Rio Pardo de Minas, no Norte do estado. Ele mantém 350 hectares de café irrigado em sua propriedade, a Fazenda Apóstolo Simão Coffee. Segundo o produtor, após o período de fechamento de cafeterias no Brasil e no mundo, como medida de prevenção contra o coronavírus, o consumo se regularizou e encontra-se em expansão. “As comodities encontram-se com preços em ascensão devido a valorização atual do dólar”, observa.

Em 2020, a fazenda colheu 23,7 mil sacas de café. O produtor diz que, a crise sanitária foi superada pela empresa com ênfase em três aspectos: “saúde e segurança do trabalhador, emprego de alta tecnologia e respeito aos protocolos para prevenção do coronavírus”. Carlos Humberto conta com 50 funcionários registrados. Na época de safra como agora (junho a setembro), gera 150 empregos.

Mecanização 

Produtor de café no Alto Rio Pardo, Denerval Germano da Cruz, prefeito de Taiobeiras, diz que as lavouras da microrregião já alcançam o total de 5 mil hectares de café irrigados , com produção estimada em torno de 200 a 250 mil sacas por ano. O Alto Rio Pardo, como todo Norte de Minas, tem sol forte e  longas estiagens, diferentemente de áreas do Sul do estado, tradicionais produtoras do grão.

Denerval Cruz explica que o segredo dos resultados da cafeicultura no Alto Rio Pardo é fazer o plantio irrigado e que a região também tem  vantagens: altitude acima de 800 metros e alta amplitude térmica e luminosidade.  “O café se adapta muito em regiões acima de 800 metros de altitude. A amplitude térmica (calor durante o dia e frio à noite) favorece o crescimento da planta e a boa produtividade, gerando mais açúcares e outros elementos. A luminosidade impede o ataque de fungos, assegurando a boa qualidade ao fruto depois de colhido”, relata.

O avanço das lavouras de café provocam uma mudança no Alto Rio Pardo. Antigamente, era comum a saída temporária de pessoas da região para trabalharem nas colheitas de café no Sul de Minas e no Alto Paranaíba. “Agora, muitos moradores estão colhendo aqui na região mesmo, sem precisar afastar de suas famílias”, destaca Denerval.

O ciclo dos cafezais enfrentou dificuldades durante a colheita no ano passado, de maio a setembro, período de avanço da contaminação pelo coronavírus, mas não houve comprometimento da produção. Uma das medidas adotadas pelos cafeicultores foi o uso da mecanização, para evitar atraso e prejuízo. “Houve redução de oferta de mão de obra por causa do receio das pessoas quanto à contaminação pelo vírus, mas adotamos os protocolos de segurança e distanciamento”, diz.

Cerca de 80% das exportações mineiras é composta de café verde, que chega a mais de 80 países. No outro lado dessa moeda, enfrentando ou não crise sanitária, a oferta de café especiais é crescente no estado. Há estimativas de que ela cresce 15% ao ano, estimulada por premiação nacionais e internacionais, embora ainda representa parcela ao redor dos mesmos 15% da safra do ano passado.

Plantio avança em novas áreas

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Hábito de consumo do cafezinho se ampliou dentro de casa, com a pandemia, assim como os embarques do grão ao exterior(foto: Nereu Jr/Divulgação - 9/11/20)

Durante a pandemia, o surpreendente aumento do consumo em casa contrabalancou a redução da demanda no chamado food service, o segmento abrangido pelos estabelecimentos comerciais que incluem cafeterias e padarias, como observa Rogério Schiavo, diretor executivo do grupo Monsanto Tavares, gigante do setor cafeeiro, que reúne as empresas Atlantica Coffee, Cafebras e Ally Coffee.

Outro fator que explica o bom desempenho da cultura é a manutenção da demanda global pelo café mineiro e brasileiro e a elevação de preços no mercado internacional.

“Atuamos há 20 anos nos mercados nacional e internacional de café, na produção, exportação, importação e armazenagem do grão e percebemos que houve essa mudança no perfil de consumo com a pandemia”, afirma Schiavo. Com escritório central em Belo Horizonte, o grupo atua no comércio internacional por meio de estrutura própria na América do Norte, América Central, América Latina, Europa, Ásia e África.

Nos últimos 12 meses, a despeito da pandemia, a empresa ampliou o plantio de café em 800 hectares de novas áreas nos municípios de Pirapora, no Norte de Minas, e Barreiras, na Bahia. De acordo com Schiavo, a meta do grupo é alcançar 10 mil hectares de cafezais dentro dos próximos oito anos.

O conglomerado mantém 600 empregos diretos, em fazendas nos municípios mineiros de Angelândia e Capelinha, no Vale do Jequitinhonha; e Pirapora (Norte de Minas), além de Barreiras (BA). A companhia conta com armazéns em Varginha (Sul do estado), Patrocínio (Alto Paranaíba) e em Manhuaçu e Caparaó (Zona da Mata). No ano passado, o grupo Montesanto Tavares obteve faturamento de R$ 2,2 bilhões em 2020 e comercializou no ano 3,2 milhões de sacas no Brasil e no exterior.

Frio intenso gera perdas

Embora 2021 seja ano da bienalidade ruim da planta, quando a produtividade dos cafezais cai, as expectativas de exportações e de expansão da produção mineira dos cafés especiais têm sido crescentes, com ou sem pandemia. A produção da safra deste ano é estimada em 23,4 milhões de sacas de café beneficiadas. A cafeicultura se ressente também das geadas registradas em 2021. Levantamento preliminar de perdas decorrentes do clima adverso, feitas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) indicam que as regiões mais atingidas são o Sul de Minas, Alto Paranaíba e Triângulo.

 

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