T Ó P I C O : Café de Açaí tem potencial antidiabético e valor sustentável, aponta pesquisa da Ufam
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Café de Açaí tem potencial antidiabético e valor sustentável, aponta pesquisa da Ufam
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 14/09/2025 00:43:21
Leonardo Assad Aoun comentou em: 14/09/2025 00:58
Café de Açaí tem potencial antidiabético e valor sustentável, aponta pesquisa da Ufam
Embora conhecido popularmente como uma alternativa natural para auxiliar no controle da diabetes e da hipertensão, até recentemente faltavam pesquisas científicas que comprovassem sua eficácia e segurança.
Por Hector MS Silva/Portal Amazônia
Café de açaí apresenta potencial antidiabético. Foto: Celso Lobo/Alepa
O café de açaí, preparado a partir das sementes torradas do fruto amazônico (Euterpe sp.), é uma bebida da Região Norte que, aos poucos, tem conquistado novos consumidores também em outras partes do Brasil. Embora conhecido popularmente como uma alternativa natural para auxiliar no controle da diabetes e da hipertensão, até recentemente faltavam pesquisas científicas que comprovassem sua eficácia e segurança.
Essa lacuna começou a ser preenchida com a defesa da 163ª dissertação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas (PPGCF/Ufam), apresentada no dia 30 de julho de 2025 pelo mestrando Wilibran Candido de Barros, sob a orientação do professor Emersom Silva Lima.
O trabalho, intitulado ‘Avaliação da Toxicidade e Efeitos Antidiabéticos de um Extrato Aquoso das Sementes Torradas de Açaí (Euterpe sp.)‘, analisou os impactos do consumo do café de açaí em testes laboratoriais e, segundo os pesquisadores, trouxe resultados promissores para a ciência e para a valorização da biodiversidade amazônica.
De acordo com os experimentos conduzidos ao longo de 2024 e 2025, não foram identificados indícios de toxicidade nos testes in vitro e in vivo realizados com o extrato obtido a partir das sementes. Mais do que isso, em camundongos diabéticos, a bebida demonstrou redução significativa dos níveis de glicose no sangue, reforçando relatos tradicionais de seu efeito hipoglicemiante.
Para o professor Emersom Lima, o estudo é um marco importante para a ciência amazônica.
“Trata-se de um trabalho pioneiro, que não apenas confirma a segurança do consumo do café de açaí, mas também abre caminho para novas pesquisas sobre seu potencial como alimento funcional de origem amazônica”, explicou.
O pesquisador destacou ainda que os próximos passos envolvem estudos clínicos em seres humanos, algo considerado viável devido ao histórico de consumo do produto. “O processo de testagem em humanos é relativamente mais simples, pois já existe um uso tradicional consolidado. A etapa seguinte será desenhar um modelo de estudo clínico, submetê-lo ao Comitê de Ética e avaliar efeitos como o hipoglicemiante em indivíduos”, acrescentou.
O aluno responsável pela dissertação, Wilibran Barros, lembrou que o nome “café de açaí” é uma denominação popular, já que o grão não contém cafeína.
“A realidade é que o termo é bastante empregado pelas populações ribeirinhas. O que nos levou a investigar essa bebida foi justamente o uso tradicional, especialmente no Pará, onde há relatos de que ajudaria a reduzir a glicemia. A partir disso, estruturamos um projeto científico para comprovar essa hipótese”, disse.
Café de Açaí pode ser comercializado em pó, como comumente é comercializado o café. Foto: Wilibran Barros/Acervo pessoal
O desenvolvimento da pesquisa, segundo ele, envolveu desafios como a adaptação da semente para se tornar semelhante a um pó de café, o cumprimento de exigências éticas para estudos em animais e a colaboração entre instituições.
Parte dos testes foi conduzida no laboratório BIOPHAR, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Ufam, e outros, como o ensaio de toxicidade em modelo Zebrafish, foram realizados em parceria com a Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
Valorização da biodiversidade e aproveitamento sustentável
Além dos resultados relacionados à saúde, o estudo chama atenção para a dimensão ambiental e econômica do aproveitamento das sementes de açaí. Estima-se que elas representem cerca de 80% do fruto, sendo normalmente descartadas como resíduo após a produção da polpa. Esse descarte em larga escala chega a se tornar um problema ambiental, uma vez que os caroços acumulados podem gerar impactos negativos.
Nesse contexto, a pesquisa evidencia que o café de açaí pode ter um destino mais nobre.
“O café de açaí está sendo um uso mais nobre porque é um alimento, e esse tipo de pesquisa vai valorizar com certeza o uso desse produto”, destacou o professor Emersom Lima.
Ele ressalta que o estudo fortalece a possibilidade de regulamentação do produto junto à vigilância sanitária, já que a comprovação científica é requisito para empresas que pretendem comercializá-lo de forma oficial.
O mestrando Wilibran complementa que a bebida também pode ser enquadrada como alimento funcional, agregando benefícios à saúde humana.
“As expectativas relacionadas a essa pesquisa são que, a partir da comprovação da atividade antidiabética, possamos elaborar um produto que valorize o caroço de açaí, gerando impacto positivo tanto para a saúde, com o controle glicêmico e a presença de fibras e antioxidantes, quanto para o meio ambiente, ao evitar que esse material seja descartado”, afirmou.
Apresentação de mestrado de Wilibran Corrêa. Foto: Reprodução/UFAM
O pesquisador lembra ainda que o aproveitamento da semente gera valor econômico adicional à cadeia produtiva do açaí, trazendo oportunidades para comunidades locais. Além disso, reforça a importância de unir conhecimentos tradicionais e metodologia científica para fortalecer a credibilidade de produtos regionais.
Um futuro promissor para o café de açaí
Apesar de ser um estudo inicial, a dissertação da Ufam já oferece bases sólidas para novas investigações. O orientador e o aluno afirmaram que a continuidade da pesquisa está nos planos, com a perspectiva de transformar os dados obtidos em publicações internacionais e avançar para uma tese de doutorado.
A meta é aprofundar a análise de formulações e, futuramente, realizar ensaios clínicos em humanos que possam confirmar os benefícios identificados.
“Apesar desses resultados preliminares serem bem promissores, tanto em relação à segurança quanto em relação à eficácia, é fundamental que outros estudos sejam realizados para garantir total confiabilidade. Nossa ideia é continuar com pesquisas mais focadas, especialmente em ensaios clínicos”, destacou Emersom Lima.
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