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T Ó P I C O : As seduções do consumo

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As seduções do consumo


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 15/06/2019 17:48:36


Leonardo Assad Aoun comentou em: 15/06/2019 17:57

 

As seduções do consumo

 

Nada substitui o preparar café coado, aquele com gostinho de casa

Por: Solange Paraíso/Folha PE

Certas tecnologias não substituem antigos rituais
Certas tecnologias não substituem antigos rituais. Foto: Freepik/Divulgação

Outro dia, ganhei do meu filho uma cafeteira, dessas que usam cápsulas. Sabedor do meu gosto por café, sobretudo o coado (ou filtrado, como aprendi com a barista Lidiane Santos), ele quis me agradar com o mimo, pela praticidade que o uso de uma cafeteira elétrica propicia. 

Antes mesmo que a inaugurasse, precisei de uma peça de reposição, a qual sofrera uma avaria no dia da instalação. Numa busca rápida na internet, dei de cara com um telefone 0800 do fabricante, esperando encontrar no Recife a referência de uma loja física com a simplória jarrinha de acrílico à venda. Ledo engano...

Aquela atendente de Call Center estava muito bem treinada para, antes de qualquer coisa, me dar boas-vindas ao Clube-Não-Sei-de-Quê, mediante um rápido cadastro. Informou-me que não havia loja física em Recife, e que minha encomenda viria de São Paulo. Por uma benesse, eu nem pagaria o frete, a peça custaria apenas quinze reais e chegaria à minha casa no exíguo prazo de três dias úteis. Isto me encantou! Até que enfim, um atendimento proativo neste país de burocracias!

 

 

Mal desliguei o telefone, comecei a receber uma enxurrada de apelos de consumo por cafeteiras, cápsulas e espumadores de leite pelas redes sociais e por e-mail, estimulando cada vez mais as minhas reflexões sobre as seduções do consumo. 

Para começar, a cafeteirazinha já se fizera acompanhar originalmente de uma caixinha muito charmosa, contendo umas vinte cápsulas diferenciadas com nomes e aromas de café inusitados, para esta consumidora mediana. Enquanto esperava os três dias se passarem, fui lançada, sem esperar, num mar de informações sobre ofertas de mercado compatíveis com a marca em questão.

Daí em diante, a sensação era incômoda: eu fora abduzida e enquadrada num algoritmo seletivo gerado pelo tal cadastro, a partir de uma demanda tão simplória, tão irrisória, mas tão poderosa, para gerar o consumo de algo perfeitamente supérfluo, para mim. 

Ora, minha demanda por café era plenamente atendida, até então, pelo café doméstico, mais convencional possível (fiel às raízes apenas “evoluí” do coador de pano para o filtro de papel). 

Sou dessas pessoas que precisam de um café forte no meio do dia, para “dar um grau” no sono. Com frequência, me garanto levando para o trabalho uma garrafa térmica com 300 ml de café fresquinho, se não for certo poder dispor de algum por lá. Sou dependente assumida da dose matinal de cafeína, também.
Gosto de tomar café fora de casa, quando encontro amigos. 

Embora não tenha preconceito com o chamado café espresso, ainda prefiro o filtrado, quando disponível. Acho que o café socializa as relações muito mais do que se promulga. 

Depois desta moda das cafeterias espalhadas nas cidades o nicho é bastante explorado, gerando oportunidades de capacitação para atender os consumidores gourmet que eclodiram e formam opinião sobre a temática, retroalimentando toda a cadeia produtiva, do grão ao pó - quer dizer, às cápsulas também. 

Uma vez admitida no seleto clube (será?), vem a preocupação: continuo atenta e assertiva para não me encantar pela aludida praticidade de adotar o consumo das cápsulas como rotina. 

Prezo muito o ritual de coar meu café matinal, enquanto sinto a gratidão de viver mais um dia de experiências benfazejas. Delicio-me, sozinha, com meu cafezinho no trabalho, no meio da tarde. 

Já me engajei no zelo pelo descarte correto das cápsulas de alumínio e estou de olho no provável assédio se passar por estas charmosas butiques disponíveis nos shoppings. E sabem mais? Quando meu filho e nora vão tomar um cafezinho domingo de noite, lá em casa, nem me lembro da cafeteira. É café coado, mesmo!

*É nutricionista e atua no Tribunal de Justiça de Pernambuco no Núcleo Programa Saúde Legal

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