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T Ó P I C O : Pesquisas em café e uso sustentável da água são caminho para driblar crise no ES

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Pesquisas em café e uso sustentável da água são caminho para driblar crise no ES


Autor: Incaper

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Último comentário neste tópico em: 03/01/2017 11:38:55


Incaper comentou em: 03/01/2017 08:31

 

Pesquisas em café e uso sustentável da água são caminho para driblar crise no ES

 

Em fazendas experimentais, laboratórios e nas próprias propriedades são feitas pesquisas para encontrar uma forma de manter a agricultura sustentável, mesmo diante das adversidades climáticas. Os especialistas têm a missão de desenvolver tecnologias que ajudem o homem do campo a ter produtividade, plantas mais resistentes à seca e qualidade. E o agricultor tem a tarefa de colocar isso em prática, além de facilitar que essas tecnologias entrem em suas propriedades. Muitos ainda, com seu espírito empreendedor, transformam as próprias propriedades em uma área de teste e experimentações.

A tecnologia tem sido uma aliada há anos e possibilitou, por exemplo, que o Espírito Santo se tornasse uma referência na cafeicultura. Antes, o café do estado era considerado inferior. Hoje, a cafeicultura daqui é destaque no Brasil e no exterior. Aymbiré Fonseca, pesquisador do Incaper, explica que antigamente não se prezava, principalmente, pelos cuidados de colheita, pós-colheita e armazenamento do grão. Atualmente, isso é diferente, e a própria pesquisa estimula essa evolução. O Incaper, que está completando 60 anos, é um grande ator nessa área. Além do trabalho de extensão rural desenvolvido, dando apoio aos produtores, tornou-se referência na área de pesquisa.

Café Conilon
Existem várias Fazendas Experimentais do Incaper no estado, onde são desenvolvidas novas tecnologias para serem utilizadas pelo homem do campo. Ter unidades de pesquisas espalhadas em várias regiões diferentes é importante. Isso porque é preciso verificar como a planta reage às especificidades de cada local. A Fazenda de Marilândia, por exemplo, é referência nos estudo sobre conilon. Outras análises também são desenvolvidas com o robusta, em Sooretama. Ou seja, regiões com predomínio desse tipo de café.

Mas, nos últimos anos, têm sido realizadas pesquisas de conilon também na Fazenda de Bananal do Norte, em Cachoeiro de Itapemirim, e na Fazenda de Venda Nova do Imigrante, referência no arábica. Justamente para acompanhar essa mudança na produção do conilon, cultura que antes era desenvolvida em baixas altitudes, mas que hoje, com as mudanças do clima, também tem expandido para regiões mais altas.

O Espírito Santo é o maior produtor de café conilon do Brasil. E essa é uma área que conta com um trabalho robusto de de mais de 30  anos de estudos. No estado, já foram desenvolvidas e disponibilizadas nove variedades de conilon para os produtores. Hoje, só no conilon, são 40 projetos de pesquisa na área de melhoramento genético, adubação, poda, irrigação. Romário Ferrão, pesquisador e coordenador do programa estadual de cafeicultura, diz que essa seca dos últimos anos ainda serviu para que os especialistas trabalhassem em meio a todo o banco de dados de plantas em busca de selecionar variedades cada vez mais fortes. Dos dois mil materiais genéticos avaliados, 14 foram selecionados. O agrupamento desses 14 clones diferentes vai virar uma nova variedade que deve ser lançada no próximo ano.

Na Fazenda Experimental em Cachoeiro de Itapemirim, os pesquisadores têm tentado entender o mecanismo de tolerância à  seca de algumas plantas de conilon. Aymbiré relata que os pesquisadores, desde o início do programa de melhoramento, conseguiram identificar que algumas plantas têm mais tolerância à estiagem. Mas ainda não se conhece o motivo disso acontecer, o que já se sabe é que não é um mecanismo único.

O projeto, feito em parceria com a Ufes, busca entender justamente o que leva alguns pés de café a terem essa resistência. Os pesquisadores  comparam um mesmo clone em um ambiente de sombra e em um ambiente de sol. Assim vão avaliando o que muda de uma planta para outra. Quando esse mecanismo for entendido, será muito mais rápido fazer a seleção dos melhores exemplares .

Os especialistas estão sempre desenvolvendo tecnologias que consigam tornar as plantas mais resistentes às adversidades climáticas. "Ninguém esperava, por exemplo, uma seca como essa dos últimos três anos como aconteceu, mas todo programa de café, seja de arábica ou de robusta, sempre teve em pano de fundo que todo o café, por mais produtivo que seja, fosse adaptado às condições de stress hídrico", explica Aymbiré (destaque). O pesquisador e coordenador do programa de cafeicultura estadual, Romário Ferrão, aponta que a seca é um desafio. Isso porque a precipitação do estado está cada vez menor e, além disso, há uma distribuição cada vez mais desigual nas chuvas. O que demonstra a importância de se realizar pesquisas em diferentes ambientes e altitudes.

Café Arábica
A produção de café capixaba tem uma característica forte que a diferencia dos demais estados. Aqui há produção significativa de conilon e também de café arábica. E os estudos  desenvolvidos no arábica mudaram completamente o panorama de produção nos últimos anos. Em 2008, foi criado um programa chamado “Renovar Arábica”.  Os pesquisadores perceberam que as informações sobre as tecnologias desenvolvidas não chegavam como deveriam no campo. As lavouras precisavam ser renovadas dentro das novas bases. Maria Amélia Gava Ferrão, pesquisadora do Incaper, explica que no início desse programa, o produtor colhia 11,5 sacas por hectare, enquanto em São Paulo, Minas Gerais - dois grandes produtores - eram colhidas 23 sacas por hectare.

A proposta era que até 2025 a produtividade e a produção do arábica capixaba dobrassem, sem aumentar a área plantada, o que já aconteceu. Outra mudança se deu com o adensamento do café, ou seja, com a diminuição do espaçamento entre as plantas. Antes, colocavam-se 2.500 plantas por hectare. Agora,  também é o dobro. Todo esse avanço foi conquistado diminuindo a área plantada em 10%. Fruto de uma série de práticas implantadas de manejo correto, adubação, poda, adensamento, escolha certa de variedades.

No arábica, as pesquisas também envolvem a tolerância das plantas à seca. Os trabalhos são feitos sem irrigação. Os materiais genéticos das plantas são cruzados para se chegar a uma planta que, além dessa tolerância, tenha várias características, como: resistência à  ferrugem, qualidade e produtividade, porte adequado, uniformidade de maturação.

Por exemplo, existe uma planta muito produtiva, mas sensível à seca. É feito um cruzamento com uma outra planta mais resistente para que o resultado tenha o melhor de cada uma. Esse trabalho demora seis gerações. Então, são selecionados de 15 a 20 materiais que se adaptaram bem a diferentes condições. Maria Amélia ressalta  que é um trabalho bastante demorado; para se chegar uma linhagem pode levar  de 24 a 30 anos. Mas o resultado é uma variedade feita para as características de solo e clima do estado.

O Espírito Santo ainda não tem uma variedade de arábica própria, mas estudos  estão sendo feitos e o resultado deverá sair nos próximos anos. "O programa de pesquisa é dinâmico. As melhores cultivares de 20 anos atrás não são as mesmas de hoje, porque, naturalmente, vão ocorrendo mudanças climáticas. Nesse período, tivemos aumento de temperatura média em dois graus. Então, com certeza a adaptação do material é gradativa e vamos selecionando durante todo o processo," explica a pesquisadora.

Os estudos tentam acompanhar a mudança do mundo. A cafeicultura vai se moldando e se ajustando a isso. Aymbiré relembra que na década de 70 a perspectiva - quando a ferrugem foi uma grande preocupação -  era que o café no Brasil acabasse. Não foi o que aconteceu, e o país continua a ser o maior produtor de café do mundo e o segundo maior consumidor. "O que acontece é que para cada característica climática que vai sendo alterada, você tem possibilidade de contorná-la", acredita o pesquisador do Incaper, Aymbiré Fonseca. Exemplo disso são os cultivos consorciados de café com outras culturas que fornecem sombreamento. Quando se fala de  aquecimento, essa pode ser uma alternativa para diminuir a ação do sol e amenizar a temperatura das plantas.

Café Sombreado
É isso que está sendo estudado na Fazenda Experimental, em Pacotuba, interior de Cachoeiro de Itapemirim. A unidade pesquisa o consórcio de café conilon com árvores de ingá, gliricídia, bananeira e pupunha. A análise é feita por pesquisadores de áreas diferentes e busca descobrir as melhores espécies para se combinar com o conilon. Mauricio Dan, pesquisador do Incaper, explica que a equipe de estudos acredita que cada combinação de espécie produz um comportamento diferente no café.

A seca também ajudou os pesquisadores a observarem algumas características dessas combinações. Eles puderam perceber que o café solteiro, ou seja, sem consórcio, fica  mais fraco, com as folhas amarelas e produção menor. "Hoje, nós acreditamos que é uma possível alternativa pra gente ter um sistema mais adaptado aos extremos climáticos, porque quando a planta é combinada com outra planta correta, a gente consegue maximizar a produção, porque reduz os estresses climáticos" (destaque), diz Maurício.

O estudo já tem alguns indicativos dos melhores consórcios. A pupunha, por enquanto, é a que tem apresentado melhores resultados. O solo tem se mostrado mais úmido e descompactado e o café tem tido mais qualidade. O segundo sistema com bons ganhos é com a gliricídia. Com essa combinação, o solo tem armazenado mais água e matéria orgânica. Em seguida aparecem o ingá, a bananeira e, depois, o café solteiro. Várias são as medições feitas pelos pesquisadores, entre elas: a entrada de luz na área - assim como o excesso de sol faz mal, o excesso de sombra também pode fazer -  características do solo, como umidade e matéria orgânica; o aparecimento de plantas daninhas. Essa última área, das plantas daninhas, é a que Maurício estuda. Segundo o estudioso, no café solteiro há grande infestação de espécies daninhas mais agressivas, como o capim colonião. E a combinação com outras espécies têm funcionado como um filtro biológico. Em alguns desses sistemas a quantidade dessas plantas mais agressivas é menor.

Além dos benefícios para o conilon, existem benefícios diretos para o homem do campo . O sistema é bom para o bolso, pois a diversificação permite que o produtor tenha mais fonte de renda e de forma complementar. E outro ponto importante: o agricultor fica protegido da grande exposição ao sol, o que, sem dúvida, é um conforto importante.
 

FONTE: G1 ES

Assista a reportagem do Jornal do Campo: http://g1.globo.com/espirito-santo/agronegocios/noticia/2017/01/pesquisas-e-uso-sustentavel-da-agua-sao-caminho-para-driblar-crise.html

 

TAGS: Pesquisa, Café, Incaper

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